Olá, eu sou a Lalai e essa é a Espiral, uma newsletter dedicada a assuntos aleatórios, desde o meu dia a dia em Berlim até música, arte, cultura, inovação e literatura. Além disso, sempre trago dicas de assuntos que estão revirando meus sentidos. Neste momento, estou em São Paulo, então compartilho aqui um texto retirado do meu diário.
Aproveito para informar que o Aulão de Escrita Criativa arrecadou R$ 32.448,00 e a prestação de conta é possível acompanhar por aqui. Obrigada a todos que participaram e doaram. ♡
Se você mora em Berlim ou passará alguns dias na cidade, não deixe de acompanhar o . 🇩🇪
🎧 Trilha sonora para essa newsletter: The Staves, All Now
Passei dois meses em suspensão, com a mente em outro lugar e o corpo mais ou menos presente reclamando da paralisia. A cadeira se moldando às horas sentadas nela, trabalhando além do meu novo normal. Estou desacostumada.
Acordo, tomo o café da manhã, abro o computador ainda de pijama, trabalho, tomo banho, almoço, trabalho, trabalho, trabalho, faço reunião na hora do jantar, trabalho, janto, durmo exausta.
Foi em meio a esse período que a primavera chegou. As cerejeiras explodindo coloridas pelo bairro, as ruas ladeadas por magnólias beges e rosas, enquanto as glicínias atapetam as paredes dos prédios, deixando todos com longas franjas roxas.
Abril é um mês que gosta de surpreender. Vem o sol, a chuva, a neve. Trabalho, trabalho, trabalho até sentir a luz quente do sol entrar novamente em casa, se esparramando pela sala e se deitando no sofá. Gosto de vê-lo se arrastar da janela da sala ao banheiro, deixando-o bem iluminado.
Há luz para todo lado. Pó também. Não por falta de limpeza. São as árvores espaçosas e altas na frente da janela trocando de pele. Voa tudo. Voa para dentro de casa. Voa para o chão. Voa na roupa. Voa nos cabelos. O gramado todo branco. Parece neve caindo, mas é só uma bolinha felpuda branca que ainda não sei de onde ela sai.
A primavera está colorida, vibrante, dançante. Traz consigo uma energia louca. Na rua, os sorrisos são maiores que os rostos. Os olhos brilham como a lua cheia. A pele está melhor, o cabelo mais bonito. Está tudo verde. Ou rosa. Ou bege. Ou vermelho. Ou lilás.
Berlim ganha cores, texturas e cheiros. Flores, legumes e verduras. A vida voltou!
Aspargos. Brancos. Verdes. Estão mais baratos nessa estação. Vi por três euros o maço em uma feira em Veneza. Fiquei indignada. Em Berlim, paguei sete no ano passado, mas quando volto para casa, me deparo com ele custando quatro! No bio. A colheita deve ter sido boa.
Asso-os com azeite, pimenta preta e sal. Tiro-os do forno ainda crocantes e jogo uma burrata em cima, como uma amiga me ensinou. Assisto a massa branca disforme se derretendo toda para mim. Adiciono presunto cru. Como doze aspargos. No dia seguinte, pesquiso se faz mal comer tanto assim. Descubro ser ótimo para tantas coisas, incluindo benefícios para o sistema imunológico, para a perda de peso e para a produção de colágeno. Compro mais. Quero me alimentar apenas deles. Quando lembro que passei mais da metade da vida dispensando-os, compro mais um maço. No restaurante, peço sopa de aspargos, pizza com aspargos, salada com aspargos, o risoto e a massa também.
Os tomates também estão mais bonitos. Rechonchudos. Suculentos. Escolho os cheios de gomos. E os pretos que eu nem sabia que existiam. Fatio, o preto e o vermelho, e capricho no azeite. Se tiver muçarela de búfala na geladeira, preparo uma bela orgia colocando-a em fatias finas entre os tomates coloridos e finalizo com folhas de manjericão.
E a cebola chalota? Virou meu luxo pessoal. Não sabia o que era; agora tenho sempre na cozinha. Eu, que não comia cebola, agora a coloco em quase tudo que faço. É deliciosa com sua acidez e doçura suaves. Mastigo devagar, sentindo a textura que no passado me incomodava. Agora me delicio. Como pizza de cebola, pão de queijo recheado com cebola, torta de cebola, salada com cebola, frango com cebola. Posso comer só a cebola.
Até o ruibarbo, o qual descobri ser um ótimo digestivo, entrou na dieta. Bolo de ruibarbo, torta de ruibarbo, sorvete de ruibarbo, aspargos com ruibarbo, tomates com ruibarbo, cebola chalota com ruibarbo.
A primavera põe movimento em tudo. Traz sempre novidades. O corpo agradece, a mente e o estômago também. Percorro os corredores coloridos das feiras de rua, encho a sacola e aprendo a cozinhar receitas novas. Passo horas na cozinha. Eu, que já fui acusada de ter paladar infantil, agora finalmente o vejo amadurecer e ficar ousado. Quero experimentar tudo!
Tenho vontade de ir à academia. E nas aulas de yoga. Pedalo, pedalo, pedalo. O vento, às vezes gelado, passeia comigo. Redescubro Berlim, as avenidas, as ruas estreitas de paralelepípedo, os cantos secretos, atravesso parques e florestas. Pedalo para cima. Pedalo para baixo. Assisto ao pôr do sol no aeroporto que virou parque. Me emociono a toda hora. Tomo um drink em terraços ensolarados. A vida de volta, tão colorida quanto a casa. Coloco flores no vaso. Na sala, na cozinha, no corredor.
As gavetas se abrem, as ideias dançam na cabeça querendo sair para fora. Troco de pele. De sorriso. Dou adeus ao ar cansado. Projetos novos nascem.
Entendo então que passamos quatro meses reclusos para depois prestar atenção aos dias que seguem, cada vez mais longos e felizes. Até a escuridão chegar novamente. Por ora, temos ainda alguns meses animados pela frente.
Jabá ✨
Fiz o primeiro evento da newsletter The Next Day, em Berlim, no último domingo. Eu tinha esquecido o quanto amo fazer eventos. Adoro reunir gente, adoro o burburinho que rola em eventos que funcionam. Não foi nada pretensioso, ao contrário, convidei duas amigas para fazerem take over da cozinha do meu restaurante favorito, o Estelle. Colocamos alguns sets que a Barbara Boeing separou para o evento e passamos a tarde com um drink na mão e se deliciando com pão de queijo.
Aproveitei a data e fiz uma playlist bem solar, pronta para ouvir à beira da piscina, como plano B. Ouça aqui.
No dia 30 de maio, faço outro evento em Berlim, uma "Reading Party", para juntar pessoas que, como eu, são apaixonadas por livros. Caso esteja na cidade, dê alô! Vai ser no Nion Playground, um novo centro de cultura japonesa, no Mitte. E, no último fim de semana de junho, me junto com uma amiga para ocuparmos uma galeria de arte, em Kreuzberg. Lançaremos a Blue Lobster & The Next Day Haus promovendo 4 dias de programação cultural com workshops, talks, música, comida e drinks.
Já anota na agenda. ♡
I Wanted to Leave
📺 Finalmente assisti "Tár" no avião. Que filmão, hein? Entendi o hype em torno dele, mas uma das coisas que eu mais curti foi conhecer a cobertura do Boros Collection, o bunker que virou galeria de arte em Berlim, onde a personagem Lydia mora com a esposa e a filha;
📖 Estou lendo "Trilogia de Copenhague", uma autobiografia de Tove Ditlevsen. Mal comecei e já estou sem fôlego com a leitura. Paralelamente, estou lendo "Tudo o que posso te contar", da Cecilia Madonna Young, ótima leitura (e um tanto intensa) para mergulhar um pouco na versão Geração Z;
🖤 Essa edição do
está com ótimas dicas, além de uma singela homenagem ao Steve Albini, que faleceu recentemente. O Eduardo Fernandes escreveu um ótimo texto sobre Albini, que teve uma carreira muito além de produzir Pixies, Nirvana, PJ Harvey, entre tantos outros;🌌 Que texto! A casa alagada, na
;🪷 São Paulo e Berlim se juntam no evento (Re)Conexão, no Cineclube Cortina, no próximo 24 de maio. Promete ser bonito e inspirador. Vamos?
🙌 A fórmula de felicidade do Bill Murray. Genial! Obrigada Lorenzo pela dica;
🎙️ Nesta sexta, será lançado um dos álbuns mais esperados do ano (pelo menos por mim), "Lives Outgrown", da Beth Gibbons, sobre envelhecimento e perda. As boas críticas a respeito só aumentam a ansiedade;
❗O sequestrador de almas (sequestrou a minha nas poucas horas em que o acompanhei na Bienal de Veneza);
🎧 Tremors e Collective no repeat.
Volto em breve. 🤗
Lalai
Bateu saudades dos aspargos! Boa primavera!
fui me dar conta e enquanto lia já imaginava um futuro onde aprendia a gostar de comer tantas outras coisas e deixar se der acusada de ter paladar infantil também HAHAHA sério, rindo com as possibilidades. comer coisas novas, cozinhar (e gostar de cozinhar) coisas novas. nossa!
e dou risada toda vez que falo em paladar infantil sendo que minha filha de quase 4 anos come absurdamente melhor do que HAHAHA