Nos últimos dias eu mergulhei em leituras filosóficas sobre a quarentena. Onde estamos? Pra onde vamos? Temos que ser produtivos? Ou posso dormir até tudo acabar? Então, eu não tenho resposta pra nada.
No meio disso tudo veio à tona o livro "Meu ano de descanso e relaxamento" que li em janeiro. Na época não gostei tanto (apesar de ter devorado), mas agora ele me soa genial e pertinente. Tem dias que acordo e só quero voltar a dormir para acordar outra Lalai. Não tem dia que a gente cansa da gente? A nova revista Gama, do Nexo, entrevistou a autora do livro Ottessa Moshfegh que criou uma personagem que decidiu dormir por 365 dias buscando por uma grande transformação.
Olga Tokarczuk (escritora polonesa ganhadora do prêmio Nobel) escreveu um ótimo artigo sobre o quanto o coronavírus expõe que todos sentimos medo e morremos igual. Ela deixa a pergunta: "O que estamos mesmo à procura?".
A brilhante historiadora Lilia Schwarcz deu a melhor entrevista que li até o momento a respeito da pandemia: Os 100 dias que mudaram o mundo. Nela, ela faz várias afirmações brilhantes incluindo "que a pandemia marca o fim do século XX". Longuíssima, mas vale cada minutinho. Eu queria ser amiga dela.
Eu ri (de desespero) com a entrevista com o Ignácio de Loyola Brandão, autor de "Desta Terra nada vai sobra a não ser o vento que sobra sobre ela", um romance distópico escrito em 2014 e lançado em 2018. O livro narra a história de um país que tem um presidente sem cérebro, assolado por uma pandemia onde caravanas passam transportando mortos e a eutanásia é liberada para idosos. Para completar, o país não tem mais vários ministérios incluindo o da Educação e da Cultura. Identificou coincidência por aí? Mas nem Mãe Diná teria sido tão certeira. Ele mesmo ri diante da coincidência afirmando que não é vidente.
E os sonhos, como andam? Eu tenho acordado exausta porque tenho sonhado demais. Sonho com o coronavírus, com maremotos, com pessoas morrendo. Essa semana pipocaram vários artigos a respeito de sonhos x pandemia, pois realmente estamos sonhando mais e não necessariamente sonhos bons. O mago dos sonhos Sidarta Ribeiro também deu uma entrevista pra Vice contando porque temos sonhado tanto.
Para quem está enlouquecendo porque acha que precisa ser produtivo, apenas assista esse vídeo do Emicida. É maravilhoso! Deixe rolar o ócio recreativo (é o que tenho tentado fazer aqui). Estamos numa pandemia e não numa corrida de produtividade.
Mas Lalai, chega de coronavírus! Vamos falar de outra coisa?
Vamos! Na última semana teve bastante música como sempre.
Assisti o documentário dos 20 anos do Coachella. Apesar do festival não estar na minha lista de favoritos, eu o considero um dos melhores do mundo, além de concordar que ele é um ditador de tendências. Não só na música, mas também na moda e, principalmente, na economia da experiência pois lá ela rola de maneira primorosa. O documentário comprova tudo isso. Eu me emocionei com ele. Estive no Coachella em 2018 e relatei aqui como foi. Aliás, era pro festival ter rolado no último finde.
O Burning Man cancelou sua edição 2020, mas vai rolar uma edição online. Se você ainda não foi ao evento, esta é a sua chance.
O Elevate é um festival que rola na Áustria e está na minha "wish list". A edição de 2020 rolou no início de março e acho que fui um dos últimos festivais a acontecerem neste semestre (parece que agora só em 2021 teremos festivais). O Elevate tem um viés bem político e ativista, além da música mais experimental. A programação é muito foda com discussões que se tornaram ainda mais pertinentes nesse momento. Eles disponibilizaram na íntegra os talks & shows que rolaram nesta edição. Vale dar uma boa fuçada porque tem muita coisa boa.
Não sou grande fã do Rüfüs do Sol, mas morri com essa produção e paisagem da live (pra ninguém) que fizeram no meio do Joshua Tree. Joga no telão ou na TV porque está em 4k. Quem segue o Cercle vai sacar a referência. Falando no Cercle, esse show do Christian Löffler é de chorar de tão lindo.
Quem gosta de curtas, vai gostar dessa sessão do NYTimes que indica um curta por dia. A última é com o White Stripes dirigido pelo Gondry.
Cata só essas dicas de documentários de música do Dekmantel. Aliás, dois documentários musicais que assisti recentemente e recomendo foram o pseudo-doc do Bob Dylan dirigido pelo Scorcese e o Sound of Berlin, que mergulha na cena eletrônica daqui.
Fiz um novo guia de eventos, filmes, documentários pra curtir do sofá. Na sexta estarei no show da Robyn, meu grande pecado pop. Mas, se a gente gosta tanto de música, está na hora de repensar o suporte que damos à ela.
A Escuta das Margens investiga como o brasileiro consome música. Nele descobrimos que o streaming é menor do que imaginamos no Brasil. A reportagem traz vários formatos que ainda bombam, como pendrive com mil músicas vendido por estilo musical nas barracas nas ruas.
Para quem curte teatro e Shakespeare (eu amo!), o Shakespeare's Globe disponibilizou a apresentação de Hamlet na íntegra.
Estou terminando uma masterclass interessante sobre a Vida No Universo com o Amâncio Friaça. As aulas me deixaram obcecada pelos exoplanetas. Imagina que o primeiro foi descoberto em 1990 e hoje já temos mais de 4.000. Um resumo rápido pra quem não sabe do que se trata, o exoplaneta é um planeta que orbita uma estrela que não é o sol, ou seja, está em outro sistema solar.
Quem viu a expo "Hilma af Klint: Mundos Possíveis" na Pinacoteca SP se apaixonou pelo trabalho dela. A artista sueca ganhou um documentário. Agora só precisa achar onde assistir. Quem descobrir me conta?
O Thoreau escreveu Walden numa quarentena de mais de 2 anos que se enfiou por conta própria pra saber como era viver isolado da civilização. O objetivo era "viver deliberadamente confrontando os fatos essenciais da vida". Para ele "nós somos a nossa própria companhia. Se não a suportamos agora, se a tememos, se a desprezamos, dificilmente seremos uma boa companhia para alguém".
Se você chegou até o fim dessa "longletter", obrigada! Se gosta dela, não deixe de indicá-la aos amigos. <3