Trilha sonora: Jungle, novo álbum do The Blaze
Mergulhada nas lembranças e nas conexões que uma pessoa pode nos trazer
Estou no Aeroporto Schipol, em Amsterdã, esperando meu voo, que está duas horas atrasado. Chegarei na capital texana só o pó da rabiola - sei o quanto essa expressão é velha, mas é uma das minhas favoritas seguida de “só o pau da placa”, o que eu estarei também quando chegar por lá. São mais de 10 horas de viagem, sendo que saio daqui às 14h45 e chego lá às 18h05 no horário local. Entendeu a loucura do fuso horário? Sete horas a menos que Berlim, o que eu já sei que me deixará do avesso por pelo menos dois dias.
Estive bem nostálgica na última semana por conta do “sabático” (se é que essa é a melhor palavra para descrever) que a Bia Granja, criadora do YouPIX, vai tirar. Para quem não a conhece, a Bia fundou o YouPIX em 2006 como uma revista sobre a cultura da internet, que nunca perdeu o bonde e virou uma das maiores plataformas de formação de creators do Brasil.
Eu e a Bia nos conhecemos mais ou menos na época em que ela lançou a revistinha - porque ela era bem pequena - YouPIX. Rolou uma conexão simultânea e fizemos muitas coisas juntas desde então. A Bia já me chamou para ser curadora de música do saudoso festival YouPIX e para fazer curadoria de palestrantes em alguns dos seus eventos.
Quando eu olho para trás, eu me emociono ao ver que a Bia me deu a oportunidade de conhecer algumas lendas da internet da primeira década dos anos 2000 e o quanto esses encontros moldaram um pouco quem sou e que me levaram para lugares que eu sequer imaginava ir.
A Bia foi uma das primeiras pessoas a acreditar no meu olhar “isso vai virar hype”. Topou levar o Bronques para o Brasil, criador do “Last Night Party”, na época um dos projetos de fotografia mais descolado da internet, que influenciou muita gente como (talvez) o “I Hate Flash”. Lembro-me da gente na lavanderia e escadaria da minha casa e em outros cantos em São Paulo produzindo ensaios fotográficos com as minhas amigas mais lindas, como a Marina Santa Helena e a Maihara Marjorie.
Através da Bia eu conheci também o genial Anthony Volodkin, na época considerado um dos nomes mais influentes na indústria da música. Ele fundou o Hype Machine, o meu site favorito numa época em que o Spotify e qualquer outro site de streaming de música não eram ainda realidades. A gente ouvia novidades musicais através dos blogs. O Anthony teve a brilhante ideia de criar uma plataforma para indexar blogs de música usando um player, ou seja, você entra (porque ainda existe) lá e todas as músicas publicadas em blogs estão disponíveis para ouvir.
Ganhei a missão de ciceronear o Anthony por São Paulo. Acabamos virando amigos e foi essa amizade que me levou pela primeira vez ao SXSW. Ele produzia uma das maiores ativações do SXSW Music. Recentemente o Anthony lançou uma plataforma similar ao Hypem, mas focada em músicas lançadas em NFTS na blockchain, o Future Tapes, colocando-o novamente nas primeiras páginas das mídias especializadas em música.
Foi a Bia também que mandou para a minha casa o fundador do Pirate Bay, o Tobias Andersson, palestrante numas das edições do festival YouPIX. O Pirate Bay foi por muitos anos o paraíso na internet onde encontrávamos absolutamente tudo que queríamos assistir, ouvir e ler. Você pode ser contra a pirataria, mas foi ela quem incentivou a inovação tecnológica, democratizou o acesso à cultura e forçou a indústria a se adaptar a novos modelos de negócio. Ou seja, muito do que temos hoje é resultado dela.
O Tobias é sueco, assim como o meu marido. Ele e mais um amigo ficaram hospedados na minha casa no Jardim Paulista. Foi uma doideira ouvi-los contar tantas histórias vividas no fundo da internet e tudo que faziam para manter o Pirate Bay no ar.
E cá estou eu, rumo ao SXSW, doze anos após a minha primeira empreitada por lá. Eu adoro pensar em como tudo é conectado e um “e se” pode mudar completamente a rota da nossa vida. Talvez se eu não tivesse conhecido a Bia, o SXSW entraria no meu radar muito mais tarde. Conheci, por exemplo, um dos meus melhores amigos na fila de um show no primeiro ano em que fui (e estou indo reencontrá-lo).
Desde a primeira vez que fui, eu tentei convencer a Bia a ir, pois sempre achei o festival a cara de tudo que ela faz. E, finalmente, nos encontraremos nessa edição e eu mal posso esperar por isso.
Mesmo não estando tão próximas no dia-a-dia, eu e a Bia temos uma confiança profissional muito forte uma na outra. Trocamos mentorias e sonhamos juntas futuros que talvez nem cheguem. Antes dela mudar para Los Angeles, eu sempre dava um jeito de encontrá-la nas minhas idas ao Brasil.
Estou animadíssima com essa viagem. Em 2020, logo que me mudei para Berlim, eu estava com credencial e passagem para o SXSW nas mãos. A pandemia veio, cancelou tudo dois dias antes de eu embarcar e jogou uma sombra enorme no nosso futuro. Estou voltando ao festival somente agora desde então. Sinto que é uma despedida, porque no meu momento investir em eventos nos Estados Unidos não parece me fazer muito sentido, mas estou indo porque quero encontrar pessoas que admiro, curtir um dos festivais que mais gosto e abraçar a Bia pessoalmente para desejar à ela muito sucesso nesse novo momento da sua vida.
Obrigada, Bia por tudo!!! <3
My cosmo is mine
Se você gosta de ouvir novas bandas, cola aqui;
Meu vício pop: The Next Fashion;
Bate-papo com Greg Brockman, fundador da Open AI (ChatGPT / Dall-E), na abertura do SXSW 2023 na íntegra (sem legenda - está no 4:30:28);
O rei Iggy Pop num encontro com música e bate-papo com um monte de gente legal.
Até mais! Bom fim de semana :)
Bateu uma saudade do Hypem (e de toda aquela época)! Até entrei lá...
Pirate Bay e afins democratizaram e continuam a democratizar o acesso à cultura. Boa viagem!