Stefanie Egedy: minha amiga “sound worker”
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O MONOM foi um dos primeiros lugares que visitei quando me mudei para Berlim. Era fevereiro, estava um frio do cão e eu estava com uma amiga de São Paulo me visitando. Fomos juntas e mergulharmos numa experiência tão catártica e singular, que resultou neste texto. Desde então, o MONOM passou a ser um dos meus lugares favoritos da cidade. Meses depois eu voltei lá com um amigo influencer que tinha sido convidado para um tour privado. No fim do passeio nós conhecemos a Stefanie que nos ouviu falar português e perguntou se éramos brasileiros.
Falamos sobre amenidades, música, grave e sub-grave - as sua paixões, e soube que, além de ser produtora musical e artista sonora, ela trabalhava no MONOM. Trocamos números de telefones, mas a pandemia veio na sequência e a gente se perdeu até que meses depois eu decidi convidá-la para jantar em casa. Eu era nova na cidade, pandemia rolando e poucas pessoas para trocar figurinhas, achei que ela poderia ser uma pessoa interessante para conhecer e eu não estava errada.
Durante a quarentena, ela pacientemente pegou na minha mão e me ensinou a produzir música, me deu aulas sobre som, frequências e falou sobre filosofia de maneira apaixonada. Foram meses e meses até eu descobrir que atrás daquela garota meio sisuda de 26 anos, às vezes um pouco blasé, existia uma alma muito jovem, risonha e engraçada borbulhando de afeto. Ela tem sempre um elogio guardado na bolsa para as amigas e mimos para dar em forma de chocolate.
É sonhadora, generosa, workaholic e ambiciosa. Nasceu em São Paulo, cursou Administração Pública, na FGV, e Filosofia, na PUC-SP, estudos que ela diz ressoar em suas obras. Em Berlim, ela se divide no papel de executiva de operações do MONOM e de artista sonora. É auto-didata e, mesmo sem estudar alemão formalmente numa escola, ela hoje se comunica bem na língua como vi poucas pessoas se comunicarem em tão pouco tempo e diz que falará alemão perfeito, o que não é uma promessa pequena.
Apresentou suas obras sonoras em festivais e festas como o Festival CTM (Berlim), Zentrale (Viena), Festival Patchlab (Cracóvia), Museu de Arte Moderno (Buenos Aires), MIS - Museu da Imagem e do Som (São Paulo), Mamba Negra (São Paulo) e no Festival Novas Freqüências (Rio de Janeiro). Foi uma das artistas selecionadas em 2022 para residência do Shape, plataforma focada em artistas europeus emergentes nas áreas de música inovadora e arte audiovisual, e mantém o selo musical Coisas que Matam.
No momento está produzindo o SPATIAL - A Festival for Spatial Sound, Art, Music & Technology, no MONOM, que contará com obras de artistas como Patti Smith, James Blake, Max Cooper e dela própria. Em janeiro ela estreará numa das pistas mais concorridas de Berlim dentro da programação de um dos melhores festivais de música de vanguarda que acontece por aqui. Mas, apesar de estar sempre no universo sonoro cabeçudo, ela adora um funk carioca.
Como ela mesma diz, ela é filha da pista, a qual começou a frequentar aos 15 anos e foi onde se apaixonou pelos graves. Mas hoje, aos 26 anos, afirma estar velha demais para as festas quando eu a chamo para ir a alguma comigo. Então quando ela me chama para ir em uma, eu não titubeio, porque sei que será boa.
Quando eu estou nos meus trajes joviais, ela está vestida de gente grande. Estamos sempre trocando de lugar e aprendendo uma com a outra. Ela está sempre me apresentando coisas novas e é uma das pessoas que mantém minha curiosidade aguçada.
Enquanto eu ando com fadiga do futuro, ela está sempre olhando lá na frente. Sua ambição é dominar o mundo e curá-lo com os sub graves que produz. Um dia ela me disse toda feliz que no passado as pessoas pediam para ela parar de fazer barulho, hoje é paga para fazê-lo.
Eu, no alto da minha cafonice, a chamo de “my princess”, apelido que roubei do pai dela, assim em inglês, que sempre a faz rir alto, beijar na minha bochecha e me abraçar enquanto grita: “Lalaaaaaaaaaaai, você é uma querida”. A Stefanie é menina e mulher (e das grandes).
Sempre gostei de ter amigas bem mais jovens que eu, porque não apenas me mantém jovem (pelo menos espiritualmente), mas também me mantém curiosa, aprendendo coisas novas, além de me ajudar a navegar no novo mundo que se descortina à nossa frente. Com elas, eu aprendo novos códigos, comportamentos e de crédito, elas me fazem acreditar que o futuro será um lugar melhor para estar.
Felicidade
Perguntei para a Stefanie o que é felicidade para ela, a resposta foi: “Estar alegre no processo de tornar-se e não ficar calculando o futuro. Estar entre pessoas queridas rindo e fazendo zoeira, o que para mim significa, piadas, falar coisas “non-sense” e rir de si mesmo.”
O que a Stefanie lê
Ela é uma das pessoas mais nerds que conheço. O livro dela de cabeceira é “The Craft of Controlling Sound: A Walk in the Acoustic, Analog, and Digital Worlds”, por Stephen Solum, “um livro sintético que explica de cabo a rabo o que é som, como ele se comporta e as possíveis operações.” Eu li o livro no ano passado por sua indicação e a leitura é puro deleite porque, apesar do tema parecer técnico demais, a escrita é super didática e divertida.
Além desse livro, a Stefanie mergulhou bastante na filosofia na época da faculdade e carrega hoje algumas leituras como as favoritas. Suas dicas são “Construção social da realidade”, por Peter Berger e Thomas Luckmann; “Deleuze, os movimentos aberrantes”, de David Lapoujade; e “Lembrar Escrever Esquecer”, de Jeanne Marie Gagnebim, que foi a professora que a “ensinou o que é Filosofia e a filosofar, que a vida não é linear, que o real é tudo aquilo que faz efeito e que a perda de si, do sujeito, é sobre se reencontrar e sempre diferente.”
Na sua lista de filósofos favoritos estão: Jeanne Marie Gagnebim, Paul Virilio, Harmut Rosa, Deleuze & Guattari, Hermenêutica com Paul Ricoeur. Stefanie prefere textos e autores que exploram onde a Filosofia encontra a Sociologia e a Antropologia.
E seus artistas favoritos
Artistas favoritos? São brasileiros que estão no topo da sua lista, como a dupla Mirella Brandi & Muep Etmo e o escritor Vinícius Maffei, pois ela gosta “de trabalhos que me transformem do estado sóbria para chapada de arte… haha.”
Filmes
“Under Electric Clouds” (Sob Nuvens Elétricas), de Aleksey German Jr. É o seu filme favorito, pois “aborda a existência de forma muito cômica e a fotografia e locações são, como se diz, de tirar o fôlego!”
A amiga genial da Stefanie
Ela sugeriu a Raquel Fedato, uma amiga que temos em comum, mas como a Raquel já passou por aqui, ela sugeriu outra grande amiga, a Camille Laurent, que “é “multi maker”, arquiteta, “lighting designer”, artista, dona de si e uma das minhas mentoras nessa vida; além de ser uma francesa, figura há mais de uma década em São Paulo.”
Minhas andanças por aí
Terminei de ler recentemente o livro “Ao paraíso”, de Hanya Yanagihara, que foi uma das obras que mais me impactaram nos últimos tempos. Escrevi uma pequena resenha aqui, mas você ainda lerá mais sobre ele em breve por aqui.
Mulheres que encolhem, texto genial da Mariana Moro.
Uma artista polonesa (baseada em Berlim) contemporânea para conhecer: Alicja Kwade, que está com uma linda instalação na Art Basel Paris.
Eu tenho gostado muito de acompanhar a Ale Garattoni, que eu devo conhecer desde o blog It Girls, como “escritora de newsletter” que ela se autodenominou no Amo News, sempre trazendo ótimas reflexões.
A escritora Giovana Madalosso foi ameaçada por apoiadores do atual governo. Em resposta, escreveu um texto poético sobre o poder da palavra, esta que “ninguém mata”.
Tchau! Bom fim de semana… por aqui estou seguindo para o ADE, em Amsterdã.
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Uau! É cada susto bom que ando levando aqui, ao saber que as autoras de Substack que eu leio também me leem!
Sensacional Princess high tech life bio by Lalai Person