Olá, eu sou a Lalai e essa é a Espiral, newsletter semanal dedicada a assuntos aleatórios, desde o meu dia a dia em Berlim à música, arte, cultura, inovação e literatura, além de trazer sempre dicas de assuntos que andam revirando meus sentidos. Essa edição está num formato diferentão porque ainda não consegui organizar a nova rotina, mas confesso ter curtido o resultado final. Espero que você também.
Trilha sonora para essa edição: "Museum", JFDR - se você está indo para o SXSW, vá assisti-la ao vivo.
1.
Cheguei em Berlim após 38 dias calorentos e abundantes no Brasil. As saudades da casa e do marido fizeram meu coração ficar apertado. Após 23 horas de viagem porta a porta, entrei em casa ávida por um banho quente antes de jantar com uma amiga que visitava Berlim. Abro a porta e me deparo com o Ola com o rosto meio roxo e um sorriso irônico no rosto: "Oi! Não tem água quente!".
Ele estava saindo do banho, a temperatura lá fora e dentro de casa parecia a mesma: 10 graus.
2.
Em 2022 tivemos um problema com o aquecimento central do prédio. Na época, a imobiliária, dona do prédio todo, decidiu por um paliativo ao invés de trocar a bomba defeituosa, o que descobrimos só agora. O prédio foi vendido para uma outra imobiliária, mais incompetente que a anterior, trazendo o problema de volta. Temperatura negativa lá fora e sem aquecimento em casa.
Nos orientaram a comprar um aquecedor portátil enquanto concertam. Porém, um mês depois descobrimos que nada tinha sido feito. Isso foi em meados de novembro. Estamos no fim de fevereiro e a novela continua rolando com alguns capítulos cheios de emoção. Fico tensa só de pensar na conta de aquecimento que receberemos no fim do ano, já que por aqui pagamos um valor fixo mensal e no fim do ano pagamos a diferença. É sempre uma surpresa desagradável. 😩
3.
O jeito foi se virar com a banheira e uma caneca por 4 dias para tirar o restante do glitter teimoso colado no corpo. Foram dias enrolada nas cobertas, porque os aquecedores portáteis não deram conta do frio. Contei para o meu pai o que estava acontecendo e ele retrucou "Quem diria ter esse tipo de problema no primeiro mundo."
4.
Entrei 2024 prometendo me policiar nas reclamações, mas o universo segue me testando.
Fui checar se estamos na fase do Mercúrio Retrógrado, mas ele só chega em abril. A malinha de medo está ficando cheia. Por ora, contemplo a lua cheia na madrugada banhando a minha cozinha com desconfiança.
5.
Um amigo brasileiro, residente em Berlim como eu, me contou sobre a solidão e o vazio que sente e não sabe de onde vem.
Sempre que viajo ao Brasil, volto com novos pensamentos sobre a vida de imigrante. Eu também sinto essa solidão mesmo estando em um ótimo casamento e tendo muitos amigos em Berlim. Mas, a falta de pertencimento, que eu não sei se um dia deixarei de sentir, é o que parece causar tanta coisa dentro da gente que não nos damos conta.
Começa pelo idioma. Não falar alemão nos impede viver a cultura local de maneira completa. E, também, entendê-la. Uma amiga, que vive com um alemão e fala alemão fluentemente, me confidenciou que o pertencimento não veio no pacote. Continuamos sendo forasteiras. Para mim, saber que é essa sensação de não pertencer que causa um vazio e, às vezes também solidão, dá nome a esses sentimentos trazendo um alívio. Não tem nada errado com a gente.
6.
O meu marido está viajando enquanto lido com todo esse caos inesperado reinando absoluto desde a minha chegada. Apesar do caos e da falta de pertencencimento, eu me sinto em casa por aqui. Hoje me sinto fora do lugar quando estou em São Paulo.
Gosto de voltar para casa a ponto de querer ficar uns dias quieta no sofá só para curti-la. Mas eu mal cheguei e mal parei. Fui em show, conheci bar novo, restaurante novo, visitei exposição, encontrei amigos e tenho trabalhado bastante.
Isso é ótimo. Eu gosto de movimento, especialmente quando estou mergulhada, como agora, em projetos distintos em duas das minhas áreas favoritas: Arte contemporânea e festival de música. Fazia tempo que eu não trabalhava em projetos nos quais o prazer de estar neles é tão grande que me faz esquecer o tempo.
7.
Tenho pensado bastante sobre amizade e o que muda quando mudamos de país. Quero trazer esse tema para cá, em especial para falar sobre esse amor bonito que existe entre amigos que nem sempre sabemos entendê-lo. Por ora, deixo esse texto da
sobre "A melhor amiga da mulher".8.
Vi no
a dica do episódio "Garrafas ao Mar", na Rádio Novelo, que apresenta duas histórias extraordinárias sobre memória vividas nos anos 80. Uma delas surge a partir do livro "A mulher desiludida", de Simone de Beauvoir, encontrado em um sebo cheio de anotações que acabam construindo uma história paralela; a outra, que me fez chorar de saudades de um ‘eu’ que não existe mais, foi encontrada em uma carta gravada em voz em uma fita k7. Apenas ouça. ♡9.
Terminei de assistir "Expatriadas", com a Nicole Kidman, Ji-young Yoo e Sarayu Rao, uma baita elenco. A série narra a vida dessas 3 mulheres expatriadas, todas elas nascidas nos Estados Unidos, vivendo em Hong Kong. A premissa é ótima, mas a série se perde um pouco. Começa como um thriller, mas aos poucos vai para um outro lugar. Ela tem boas oportunidades para discutir diversos assuntos, inclusive explora bem a questão social, mas se aprofunda neles menos do que poderia. Algumas boas histórias começam a ser contadas, mas vão se perdendo deixando a costura da narrativa meio bamba. Tinha tudo para ser ótima, mas é apenas boa. Quero conversar sobre ela. Alguém?
10.
Meu pai estava com uma pinta gigante na cabeça dele. Feia mesmo. Pedi para ele ir ao dermatologista para analisar e arrancá-la dali. Voltei ao Brasil 4 meses depois. Qual a minha surpresa ao não vê-la reinando absoluta em sua careca? Perguntei se ele tinha ido ao médico, mas ele não foi. Me contou que alguém sugeriu ele usar óleo de melaleuca, o que ele passou a fazer todos os dias, passando uma gotinha na pinta até ela desaparecer. Deu tão certo que ele começou a passá-lo em outras pintas que o incomodavam e também nos dedos dos pés, que não andavam muito bem com uma micose que não desaparecia. E não é que o tal óleo resolveu tudo? Fui pesquisar e descobri que a melaleuca é um antisséptico muito bom para tratar algumas doenças da pele, incluindo acne, micose e é um santo remédio para unhas fracas.
Achei essa lista com 15 usos para a melaleuca. A melhor parte: É barato.
11.
Eu e o mundo estamos fascinados pelo
, que surgiu como uma newsletter baseada em curadoria feita por pessoas bacanas e agora virou uma rede social. Saiu matéria no NYTimes, no The Verge, na Vice e na The Flaunt, só para citar alguns veículos. É o tipo de case que me leva ao , da , que explora como transformar uma newsletter em negócios. O Tyler Bainbridge prova que dá para ir longe.12.
Eu e mais duas amigas temos trocado bastante ideia sobre o futuro da internet. A que a minha geração conheceu já não existe mais. Temos discutido muito sobre a nostalgia trazer de volta tantas coisas que gostávamos, como os zines, e outras que não gostávamos tanto, como a estética da época do Geocities, que, inclusive tem tanta gente obcecada com ela, que fizeram um manual de como criar um site com cara dos anos 90. Mas, de tudo que lemos e discutimos, esse texto sobre a internet estar evaporando foi a que mais causou curto circuito no meu cérebro. Caso você trabalhe com cultura digital e não tenha visto, eu recomendo bastante a leitura.
13.
A internet também anda obcecada em identificar músicas perdidas, inclusive tem até campanha para descobrir a autoria da música mais misteriorsa dessa rede global.
14.
Não é à toa que o shoegaze voltou. O gênero está tão em alta que ganhou atenção especial na próxima edição do SXSW, que fez essa playlist dedicada a ele.
Aliás, se você está lendo essa newsletter e vai para o festival em Austin, faça o favor de não perder por nada desse mundo o show do Johnny Jewel, aka Glass Candy, Chromatics e Desire, que também se apresentará nos palcos do SXSW. Caso não saiba de quem estou falando, ouça essa música, essa, essa e assista esse videoclipe. O selo de Jewel, o Italians Do It Better estará com um showcase no Elysium, nos dias 13 e 14 de março. Cola lá por mim, faça vídeo e me agradeça pela dica. -`♡´-
16.
E não é que um relatório sobre como a Geração Z está consumindo música mostra que o zoomers estão tristes. Também diz que a introspecção é a nova moeda para artistas em uma cultura onde a economia da atenção gera personas superficiais, passageiras e ensaiadas. O relatório também identifica o quanto ela é uma geração dependente da inteligência artificial para descobrir novos artistas e músicas (na real, acho que estamos todos).
Não é surpresa que a Taylor Swift é a artista mais ouvida entre a GeraçãoZ, seguida de Drake, SZA, Lana Del Rey e Noah Kahan - de quem eu nunca tinha ouvido falar! Também não é surpresa ver um museu como o Victoria & Albert Museum (Londres) estar contratando um(a) super fã da Taylor Swift para trabalhar junto aos seus curadores.
15.
Como falei, estou trabalhando em um projeto no mercado de arte, o que tem trazido tantas referências novas e abundância no quesito inspiração por aqui. Caso você se interesse pelo assunto, recomendo a leitura do relatório do Artnews, que investiga os desafios e os lampejos de esperança que impactam o mercado de arte atual.
16.
Caí num grupo de Whatsapp, a nossa nova rede social, cheio de dicas boas. Assisti "Pai Nosso?", um documentário sobre um médico especialista em fertilidade que engravidou metade da cidade onde mora. É uma história horripilante que vai piorando conforme evolui. Imagina você descobrir que o seu pai não é o seu pai, mas nem ele e nem a sua mãe sabem disso? Ahãm.
17.
Nesse mesmo grupo, surgiu uma outra dica que eu adorei, a história de um cara em Nova York que decidiu viver um ano biblicamente, ou seja, seguindo as regras da bíblia da maneira mais fiel possível. A experiência virou um livro e rendeu diversas palestras, mas recomendo essa com legenda em português.
18.
Por aqui, um dos assuntos do momento é o fim da Berlinale, o festival de cinema que escancarou ainda mais a tensão em Berlim sobre Palestina e Israel.
O outro tema quente por aqui é a legalização do uso recreativo da maconha a partir de 1º de abril. Será pegadinha?
19.
Adorei essa nova campanha do McDonalds, o WcDonald's. Depois de aparecer em animes e mangás como Cowboy Bebop e Cat’s Eye, o WcDonald's transforma os restaurantes em ambientes de anime, com projeções imersivas e mangás digitais.
20.
Três festivais que eu adoraria ir em 2024: O Opia, com criação e curadoria do Ólafur Arnalds, que rolará em Utrecht (Holanda); Four Tet & Friends, em Nova York; e o Meltdown, em Londres, que esse ano conta com a curadoria de Chaka Khan; e quero finalmente conhecer o Garbicz. A princípio, vou para o Sónar Barcelona, e talvez no de Istambul, e ao Way Out West, em Gotemburgo.
Tchau e bom fim de semana. Por aqui, desligo ouvindo "New Meaning", do Tempers.
Ótima news, Lalai! Adoraria ler mais sobre esse tema da amizade morando em outro país. Isso me pega muito aqui em Barcelona.
Comecei Expatriadas ontem, depois volto aqui para dizer coisas. Beijos!