Espiral #95: As 5 melhores coisas de setembro
O que me moveu em setembro entre Berlim e São Paulo
Olá, eu sou a Lalai e essa é a Espiral, newsletter semanal dedicada a assuntos aleatórios, desde o meu dia a dia em Berlim à música, arte, cultura, inovação e literatura, além de trazer sempre dicas de assuntos que andam revirando meus sentidos.
Trilha sonora para esta edição: “The Land is Inhospitable an So We Are”, Mitski
Eu sou péssima para conciliar minhas rápidas visitas em São Paulo com o trabalho. Quando chego na capital paulista, sou logo engolida por compromissos sociais e familiares. Deixo a ansiedade ocupar cada célula do meu corpo por achar que não terei tempo suficiente para fazer tudo o que quero, o que em São Paulo nunca é pouca coisa.
Martirizei-me por ter apenas duas semanas na cidade quando poderia ter esticado a temporada. Mudar a data de volta? Até cogitei, mas como fazer quando a taxa de alteração custa quase o mesmo que o preço da passagem inteira?
Mesmo com apenas duas semanas correndo doida no relógio, eu não apenas consegui aproveitar São Paulo, como consegui também me reconectar com a cidade de uma maneira inesperada. Voltei a me sentir em casa. A nostalgia bateu de um jeito diferente e, pela primeira vez, eu fiquei triste por ter que ir embora.
Voltei com muita coisa martelando na cuca, inclusive me perguntando se o meu lugar é em São Paulo e não em Berlim. Por enquanto, fico por aqui, mas agora sem o plano “para sempre” que era até pouco tempo atrás.
Matei as saudades da Gop Tun, festa que sempre gostei de frequenta, mesmo em meio a uma tempestade que pegou todos de calça curta. Toquei em uma festa com amigos e meus antigos parceiros da CREW, projeto que comandei em meados dos anos 2000. Foi um dos momentos mais nostálgicos e felizes de toda a viagem.
Resumindo, a melhor coisa que fiz foi viajar para São Paulo com o coração mais aberto para a cidade. O marido voltou com COVID e eu com a autoestima toda bem trabalhada, com muitos planos na mala e projetos nas mãos para colocar na rua. Bora lá, porque o mês de setembro terminou de um jeito lindo na minha cidade natal.
Setembro foi agitado com muita coisa boa rolando e com um dos meus melhores amigos me visitando em Berlim. Os dias foram bonitos e quentes do lado de cá e do lado de lá quando cheguei em São Paulo.
As três performances da Florentina Holzinger, uma delas no Berlin Atonal que cito abaixo, mexeram tanto comigo que ganharam uma edição da Espiral só para ela, então ela não entra nessa lista, mas estaria em primeiro lugar pela tal maneira que seu trabalho me impactou.
Soube por uma amiga, que tem o gosto pelas artes muito similar ao meu, que a trilogia “Cadela Força - Capítulo 1: A Noiva e a Noite Cinderela”, da performer brasileira Carolina Bianchi, teria mexido comigo no mesmo grau que as obras de Holzinger. A peça estreou no Festival de Avignon e ganhou destaque no NYTimes. No artigo, a jornalista diz: “Essa performance muito realista por si só fez Avignon ganhar vida durante a primeira semana do festival, transformando Bianchi - uma artista desconhecida baseada em Amsterdã - em uma sensação no evento.” Perdi porque estava no Brasil quando a performance foi apresentada em Berlim, mas deixo o nome dela anotado para mim e para você colocá-la no radar.
Eu não sei você, mas eu vibro sempre ao ver mulheres brasileiras ganhando tamanha atenção no mundo pela sua arte e projetos.
1) Festival: Berlin Atonal
O Berlin Atonal está há anos na minha lista de festivais favoritos. Não é um festival de música fácil de encarar. Exige atenção e, às vezes, paciência para ficar uma hora em pé num modo contemplativo. Escrevi sobre a 'arte da escuta' e o Atonal é sobre escutar. Facilita o fato de eu gostar de música experimental e noisy music (aka música barulhenta), mas ainda assim, ela exige de mim um foco que está sempre me escapando. Talvez seja o exercício que o festival exige de prestar atenção, experimentar e sentir o 'som' de uma maneira que pode até incomodar, me estimula. Percebo que cada vez mais eu me interesso pelo 'som' muito além da música.
Para quem está se perguntando o que é música atonal, eu explico: Ela é caracterizada pela ausência de uma tonalidade clara e pela utilização de intervalos dissonantes e harmonias não convencionais. Isso pode resultar em uma sonoridade mais complexa e desafiadora para os ouvintes, já que não há uma sensação clara de resolução tonal. Ou seja, uma música estranha para ouvidos desavisados.
O festival mudou bastante em relação a 2016, a primeira vez em que fui. Agora são duas semanas de eventos, totalizando 6 dias intensos de shows e festas. Essa última eu pulo, porque é um esforço mental tão grande que, à meia-noite, estou esgotada. Meu sonho é que eles coloquem cadeiras ou puffs para melhorar a experiência.
O Atonal chamou a minha atenção na primeira vez que fui justamente por fugir da música convencional e exigir uma entrega ao 'som' de tal maneira que eu seja capaz de me emocionar com todas as suas possibilidades. Nem sempre acontece, é claro; algumas produções são desafiadoras. Eu não titubeio quando isso acontece, porque não tenho tempo a perder. Giro os calcanhares e fujo para a pista com DJs. Talvez me falte repertório, talvez seja ruim mesmo.
O meu show mais esperado era o da Caterina Barbieri + Space Afrika, que já fizeram colaborações muito elogiadas em trabalhos anteriores. O show foi uma combinação de sintetizadores modulares (e até um violão e vocais) de Barbieri com as paisagens sonoras ambiente de Space Afrika, mas deixou a desejar num show morno."
Entre todas as apresentações que vi, destaco duas que me marcaram. A primeira foi o show lindíssimo e intimista de Laurel Halo para lançar seu último álbum "Atlas". Música eletrônica refinada com sons atmosféricos. Sempre disposta a romper barreiras, a performance de Halo nos conduziu por um cenário sonoro belo e ao mesmo tempo tanto familiar quanto peculiar. O show foi acompanhado por Leila Bordreuil, no contrabaixo.
O meu favorito foi a parceria entre Shackleton / Zimpel, Siddhartha Belmannu + Pedro Maia em "In The Cell Of Dreams", resultando em uma fusão de som e visual de tirar o fôlego. A combinação única de seus estilos criou uma atmosfera surreal, como se tivéssemos entrado em um universo completamente diferente. É a sensação que tive neste show que me faz amar tanto esse tipo de festival: ser transportada para outro espaço e tempo.
A próxima edição não tem ainda data, mas o calendário tem sido meados de setembro.
2) Show: Jeff Mills, Tomorrow Comes The Harvest
Em 2016, Jeff Mills se uniu ao baterista Tony Allen e ao tecladista de jazz Jean-Phi Dary para fazer uma série de apresentações totalmente improvisadas. Usando suas baterias Roland não sincronizadas, Mills deu à música eletrônica um toque humano e espiritual. Em 2018, o trio lançou "Tomorrow Comes The Harvest". Após a morte de Tony Allen em 2020, Mills decidiu continuar o projeto usando o mesmo nome do EP, explorando novas abordagens e colaborações.
Em setembro, Jeff Mills, Jean-Phi Dary e Prabhu Eduard se apresentaram em um teatro bem clássico em Berlim. Foram quase duas horas com a plateia sentada em bancos apertados, tentando segurar a onda para levantar e se deixar levar pela sonoridade ritualística que permeou todo o show.
Não há faixas prontas para serem tocadas. O show é puro improviso. A harmonia entre os três integrantes no palco fez toda a magia acontecer. Eles estavam todos de frente um para o outro. O músico Prabhu Eduard era o único de frente para a plateia. Ele, sentado num tablado no meio do palco, parecia possuído ao tocar suas tablas, um instrumento musical de percussão de origem indiana.
Foi uma jam session totalmente diferente de todas as que já assisti. As batidas eletrônicas, o piano, o teclado analógico e as tablas criaram uma sonoridade nova. Linda. Emocionante.
Jeff Mills disse numa entrevista que, para essas apresentações, ele sempre procura músicos competentes que amam improvisar livremente e, ao mesmo tempo, têm muito a dizer com a sua música. Para Mills, tocar dessa forma é uma extensão das mixagens que sempre fez ao longo de sua carreira. É juntar músicas diferentes de uma maneira perfeita que escorregam suavemente para dentro de nossos ouvidos. Há poucos momentos de desarranjo que são logo corrigidos. Eles riem um para o outro, apontando que erraram.
O show é um verdadeiro ritual, com os três magos nos conduzindo por uma viagem cósmica. Sentada em uma cadeira nos fundos da sala do teatro, vi a música se materializar no palco. Prabhu Eduard, em especial, com suas batidas intensas e rápidas nas tablas, quase nos conduziu para dentro de uma floresta mágica. Algumas pessoas não se conteve e levantaram com os braços abertos, celebrando esse momento tão especial em que a música é capaz de nos elevar para outro mundo.
A música tem esse poder mágico de nos virar do avesso, nos fazer derreter, enxergar mundos imaginários e nos preencher com uma felicidade absoluta, sem precisar de drogas para isso acontecer. Gosto assim, quando a música faz conosco o que permitimos e estamos abertos para que ela faça. E, ela pode fazer bastante coisa.
Saí do teatro estupefata, feliz e com um sorriso de orelha a orelha. À minha volta, todo mundo parecia estar sentindo o mesmo. Ali, a música nos uniu de um jeito lindo. É especial saber que a cada show você assistirá algo completamente diferente. Nunca será o mesmo o show. Os músicos saem do automático e entram no estado criativo. Talvez essa seja a palavra-chave: Criatividade.
3) Arte: 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível
Eu estava ansiosa em conferir a Bienal de Artes de São Paulo. Fomos em uma terça-feira no meio da manhã para tentar pegar o evento menos lotado. Há muita coisa para ver: Mil e cem objetos e obras em exposição. Muitos vídeos, muitos deles com uma hora de duração. Eu sofro um cadinho, já que vídeo também tem ganhado mais a minha atenção.
Sempre procuro ler pouco a respeito das coisas que vou ver. Gosto da surpresa e de formar minha própria opinião. Depois, fico obcecada e pesquiso bastante para ler críticas a respeito, mas antes prefiro estar no escuro. É também uma maneira de exercitar nosso pensamento crítico e avaliar como anda nosso repertório.
Decidi fazer uma visita guiada. Passei uma hora acompanhada de duas estudantes, uma de Artes Visuais e a outra de Letras, com perfis bem distintos. São elas quem decidem quais obras mostrar e o que falar sobre elas. Juntas, visitamos quatro obras e discutimos sobre elas. Nosso olhar a partir das perguntas que as duas fazem muda bastante a maneira como vemos as obras.
A primeira mediadora demonstrou um entendimento mais técnico das obras, enquanto a segunda compartilhou sua perspectiva como mulher negra, criada em uma favela e estudante de Letras em uma universidade pública. Logo na saída, ouvimos de uma delas: "Essa não é uma Bienal da diversidade como muitos a enxergam". E, ter uma hora ao lado delas, mudou também a minha própria percepção da bienal pelas provocações que as duas fizeram ao longo da nossa visita.
Usando as palavras de Ibrahim Mahama, artista ganês encarregado de abrir a mostra, essa exposição é construída sobre a terra arrasada deixada pelo colonialismo. A instalação dele ocupa boa parte da entrada do prédio da Bienal, com "objetos que remetem à história da produção e à crise da industrialização nos territórios coloniais".
E, sim, vemos bastante terra e barro nos grandes espaços da bienal - aqui na Berlin Art Week a terra esteve também muito presente.
Essa é a primeira vez que a Bienal de São Paulo é liderada por um grupo de curadores de maioria negra, Grada Kilomba, Diane Lima, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, o único branco dos quatro. E, claro, isso ressoa bastante no conjunto de artistas e obras trazidos para a mostra. Dos 121 artistas participantes, 40 são brasileiros, incluindo veteranos como Rosana Paulino, Bispo do Rosário e Ayrson Heráclito, e mais de 12% dos participantes são indígenas, como o coletivo Mahku, Carmézia Emiliano, Denilson Baniwa e Duane Linklater com obras poderosas.
Há o estranhamento inicial para quem frequenta o prédio da Bienal ao se deparar com vão central do pavilhão fechado pela primeira vez na história. "A proposta mimetiza o projeto de Niemeyer para virar sua obra do avesso. Algo que os arquitetos do Vão definem como o ato de "fagocitar" simbolicamente o espaço aberto; ou seja, abraçar e engolir o vazio com as formas curvas de Niemeyer."
Entre as obras que visitamos com a mediação, a que mais me tocou foi “O estrangeiro” (2011), de Sidney Amaral (1973-2017). Ela nos contou que Amaral foi montador na Bienal, o que nos trouxe uma leitura da obra completamente distinta do texto curatorial. Não consegui confirmar essa informação, mas gosto de como o contexto altera a forma como enxergamos uma obra.
São muitas as instalações grandiosas ocupando um vasto espaço do prédio, desde os tapetes de pérolas e contas com as belas esculturas de fios penduradas no teto, "Desire Lines" (2022), de Igshaan Adams, até as vastas ramas de crisântemos e tecidos de "Outres", de Daniel Lie, obra feita com "forças além do humano' como 'bactérias, fungos... espíritos, ancestrais”. Mas são principalmente as obras silenciosas que chamam a nossa atenção.
Os destaques são muitos. Caminhei seis horas pela Bienal e ainda assim não consegui ver tudo, mas o cansaço venceu. Adorei ver a Ocupação Nove de Julho como a cozinha oficial desta Bienal, e não as cozinhas elitizadas como nas edições anteriores cobrando uma fábula por um pão de queijo. Não perca a chance de se deliciar com o menu oferecido diariamente. Eu me esbaldei na refeição mais em conta que tive durante minha estadia em São Paulo.
Para quem gosta de listas com destaques para ir preparada, deixo essas aqui que me representam: Os destaques da 35a Bienal de São Paulo, pela Elle; 35th Bienal de São Paulo Review: About Bodies; Bienal de São Paulo aposta na arte como cura espiritual para as mazelas do mundo; e Various Earths: On the 35th Bienal de Sao Paulo.
Para agendar uma visita guiada cola aqui. Faça quantas quiser, afinal é gratuito, assim como a entrada da Bienal. Foi uma das experiências mais legais que tive em uma Bienal SP. Lembrando que a mostra segue até 10 de dezembro de 2023.
4) Arte: Ana Mendieta: Silhueta em Fogo | terra abrecaminhos
Logo que cheguei em São Paulo, eu corri para ver a exposição de Ana Mendieta (1948-1985), no Sesc Pompeia. Dois motivos me levaram até lá: minha amiga Daniela Labra é uma das curadoras e meu crescente interesse pela arte performática.
A exposição, intitulada “Silhueta em Fogo”, destaca a contribuição de Mendieta para temas , como a arte corporal, ecologia, feminilidade arquetípica, ancestralidade, cura, crítica e performance. Ela explorou várias mídias, como Super-8, fotografia, esculturas em madeira e argila, desenhos, intervenções em ambientes rurais e performances em espaços domésticos para dar vida à sua poesia visual. A mostra inclui 21 vídeos produzidos entre 1970 e 1980, autorretratos fotográficos e uma instalação. O trabalho de Mendieta chama atenção por sua contemporaneidade, tanto pelas questões exploradas quanto pela sua forma.
Mendieta migrou para os Estados Unidos aos 12 anos como refugiada política e usou seu próprio corpo nu como sujeito e objeto, incorporando-o a elementos da natureza. A terra, tão presente na arte contemporânea como citei acima, teve um papel marcante em sua obra. É um trabalho visceral, atual e feminista. É impressionante e bonito. A artista morreu precocemente aos 36 anos ao cair da janela de seu apartamento.
"Dor de Cuba/ corpo sou/ minha orfandade vivo
Em Cuba onde morres/ a Terra que nos cobre/ fala.
Mas aqui,/ coberta pela Terra de cuja prisioneira sou/ sinto a morte pulsar por baixo/ da Terra.
E assim,/ Como todo meu corpo está cheio de saudade de Cuba/
continuo a fazer meu trabalho sobre a Terra,/ continuar é vitória."
—Ana Mendieta, 1981 (tradução livre)
"Abrindo Caminhos" é uma exposição complementar a "Silhueta em Fogo," destacando o trabalho de 30 artistas contemporâneas de diferentes gerações, influenciadas pelo pensamento da filósofa Gloria Anzaldúa sobre a mestiça e a diáspora fronteiriça. As obras dessas artistas abrangem diferentes mídias e compartilham afinidades estéticas e temáticas com Ana Mendieta.
A exposição segue em cartaz no Sesc Pompeia, em São Paulo, até 21 de janeiro, 2024. A entrada é gratuita e recomendo ir com bastante tempo, porque as duas mostras são extensas com muitas referências e vídeos.
A Dani mora em Berlim e tem um currículo impressionante no campo das artes. Deixo aqui os cursos sobre arte contemporânea que ela ministra online.
5) Livro: A vida dos outros e a minha, Claudia Cavalcanti
Desde que me mudei para Berlim eu passei a colecionar livros sobre a cidade e, em especial, sobre o muro. Tenho uma curiosidade desmedida por sua história tão trágica. Não muito distante da minha casa fica o Memorial do Muro, aberto em 1998, um ano após a primeira vez em que pisei na cidade. Gosto de lá. É uma região onde histórias, que parecem uma ficção escrita de modo exagerado, aconteceram.
Foi num post da Natalia Timerman que vi a dica do livro “a vida dos outros e a minha”, de Claudia Cavalcanti. Poucos dias após o livro chegava na casa dos meus pais e, numa sentada, eu o li com os olhos largos enquanto segurava a respiração ansiando por respostas. Um livro pequeno mas grandioso no conteúdo.
A Claudia Cavalcanti se mudou para Leipzig em 1984 para estudar na Universidade Karl Marx, atualmente se chama Universidade de Leipzig. Foram 5 anos morando e estudando na Alemanha Oriental, dentro do muro.
“Logo nas primeiras semanas em Leipzig, percebi que a RDA estava longe de ser o país dos sonhos para quem morava lá. Os indícios da futura ruína se manifestavam nos detalhes da vida cotidiana, nas opiniões das pessoas e em algumas atitudes, por mais intranquilas e desconfiadas que fossem. Na falta de uma imprensa livre, essas pessoas, na maioria estudantes, eram termômetro e parâmetro para minha percepção do descontentamento geral e da paulatina decadência socialista. Em 1989, porém, quando começaram a ocorrer manifestações em massa contra o regime, o tempo correu acelerado sem pular os dias, até culminar na queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro.” - Claudia Cavalcanti, na revista piauí
Só o fato de ser brasileira e ter vivido na Alemanha Oriental já me levaram à curiosidade de ler o livro. Como era morar num país em que ir e vir era um direito negado, e para você, como estrangeira, poderia ir embora na hora que quisesse? Em 2019, Cavalcanti visitou Berlim com as filhas e voltou para o Brasil decidida a fazer um requerimento ao governo alemão para saber se existiam documentos a seu respeito nos arquivos da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.
O livro é uma odisseia envolvente em que Cavalcanti narra um pouco do seu dia a dia e sua história, com especial destaque ao ano que antecedeu a queda do muro, quando ela ainda estava lá. Traz um monte de referências políticas e literárias da época e vai nos envolvendo de tal maneira que dá vontade de pular para o final do livro para saber se havia arquivos sobre ela e, se houvesse, quem foram as pessoas que a deduravam. Lembrando que ela não era espiã, mas apenas uma estrangeira que, só por esse motivo, já poderia ser suspeita.
Sua narrativa única desemboca quase num romance policial. O livro nasceu a partir de seus textos publicados na revista piauí: “A vida dos outros e a minha” e “Uma história acabada”. Mas recomendo ler o livro (aproveita que está com 50% de desconto e vem num embrulho lindo) que traz muitos mais detalhes e referências sobre esta época emblemática da história alemã. Terminei o livro querendo conhecer a Claudia, assim já íntima e ouvir toda a história dela.
O livro é uma mistura de autobiografia e reportagem com uma escrita deliciosa de ler. É sobre história, amor, vida e morte. A pandemia também está lá, pois foi durante ela que a autora esperou pela resposta do dossiê e pela volta da vida normal que passou a ter após a queda do muro. Coincidentemente eu terminei de ler o livro alguns dias antes do Dia da Reunificação da Alemanha, celebrado no dia 3 de outubro, que ela discorre a respeito no fim do livro.
As referências que ela traz são tantas que já têm livros novos chegando aqui em casa em breve.
Strange or Be Forgotten
“Post too long for email” é o que leio numa faixa azul enquanto edito esse texto.
Estou com bastante coisa bacana para compartilhar, mas em breve chegará por aí uma edição extra com essas referências. Por hoje, deixo o texto “Here’s to the Crazy Ones”, da newsletter
, em que a Paula bateu um papo comigo sobre Berlim e trouxe algumas dicas dos meus lugares favoritos na cidade:Nos falamos em breve. Bom feriado para quem está no Brasil.
Amei a news e na volta a SP a gente precisa se ver! Comprei NAORA o livro da Claudia Cavalcanti, me interessa muitíssimo esse tema do muro. Beijos ♥️
Confesso que tenho um pouco de satisfação quando aparece a mensagem do post grande demais.