Espiral #105: As coisas que mais amei em 2023
Uma lista com 30 itens que fizeram o último ano ser pra lá de especial
Olá, eu sou a Lalai e essa é a Espiral, newsletter semanal dedicada a assuntos aleatórios, desde o meu dia a dia em Berlim à música, arte, cultura, inovação e literatura, além de trazer sempre dicas de assuntos que andam revirando meus sentidos.
Trilha sonora para essa newsletter: "That! Feels Good!", da Jessie Ware, para traduzir o mood dessa edição.
Olá! Espero que a chegada de 2024 tenha sido por aí o sucesso que foi por aqui. 🎆
Refleti muito sobre como compartilhar a lista de coisas que amei ao longo de 2023 sem deixá-la cansativa. Acabei escolhendo 30 itens, embora não necessariamente 30 coisas, que me fizeram entrar em 2024 me sentindo a própria Madonna na turnê "The Celebration".
Antes de compartilhar a lista, eu recomendo dois exercícios que fiz logo na primeira semana do ano e que teve um efeito recompensador:
Se você escreve um diário, volte aos seus textos pessoais. Escrevi quase todos os dias nos últimos anos, mas nunca voltei aos meus cadernos empilhados dentro de duas gavetas ao lado da cama. Qual foi a minha surpresa ao ver que, no meio de 2022, eu já sabia das merdas que voariam no ventilador, mas (talvez) a zona de conforto fez eu fingir que estava tudo bem. Reler o que escrevemos pode ser um oráculo que não deve ser ignorado.
Reveja as fotos acumuladas no celular. Muitas delas carregam significados que nem sempre percebemos quando as capturamos, além de nos lembrarem de momentos bons que vivemos e, por vezes, esquecemos.
2023 foi um ano de reconexão com amizades antigas que não só me fizeram tão bem quanto me relembraram quem sou. Revisitar o álbum de fotos mostrou que vivi um ano maravilhoso com mais coisas boas do que ruins. Foi um privilégio fazer as viagens que fiz, ver tantos shows, voltar aos festivais de música que eu gosto tanto e ter feito alguns projetos, que foram poucos, mas trouxeram novas perspectivas e deram um novo rumo à minha vida.
O resultado é: 2023 foi um ano de transformação, cheio de beleza mesmo em dias de tristeza. Estive mais melancólica do que o normal, mas quando fracassamos na tentativa de nos reinventar, não podemos esquecer que tentar de novo está disponível. Nem sempre é óbvio como poderia ser, mas às vezes precisamos nos esvaziar do passado para dar espaço para o futuro existir.
A virada de ano em Berlim foi melhor do que o esperado, sinalizando um novo ano próspero, criativo e de sucesso. Desejo o mesmo para vocês. ♡
Ao fazer essa lista, reparei que meus livros favoritos do ano foram sobre perdas, danos e se reerguer. Enfrentei uma crise de meia idade? Hmmm... Já na música, preferi coisas alegres no geral, que me fazem remexer o quadril tão logo aperto o play. Vamos lá:
1 - O Sónar Barcelona foi o meu evento favorito do ano, não pelo festival em si, mas pelas conexões inesperadas que trouxe. Foi uma celebração com velhos e novos amigos. Voltei para Berlim com borboletas no estômago, como se estivesse apaixonada. Além disso, vi alguns dos meus shows favoritos do ano por lá: Ryoji Ikeda, Nosaj Thing & Daito Manabe, Deena Abdelwahed, Aphex Twin e Fever Ray, mas o ápice com os amigos foi no show do Bicep e em uma competição acirrada no carrinho de bate-bate.
2 - O show da Suzanne Ciani em Berlim foi perfeito para fechar o ano. Ver essa senhora muito chique esbanjando talento enquanto opera um enorme sintetizador, tirando e colocando fios, virando e apertando botões, foi uma das coisas mais bonitas que vi no palco em 2023.
3 - "O perigo de estar lúcida", de Rosa Montero, foi uma leitura que me virou do avesso. O livro é um ensaio sobre a loucura e a criatividade. Por aqui, foi uma sessão de terapia de choque ao me ver defrontada com velhos fantasmas e sonhos que se viram esmagados pela vida adulta. Li também em 2023 "A ideia mais ridícula de nunca mais te ver" da mesma autora e incluo-o nessa lista. Virei fã de Montero. ◝(ᵔᵕᵔ)◜
4 - "Ioga", de Emmanuel Carrère, me tirou do prumo, talvez, porque como o autor, eu fui ao inferno e voltei. O livro, que tem a yoga como ponto de partida, mas não é sobre ela, mostra o fundo do poço que o ser humano pode chegar.
5 - "Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã", de Gabrielle Zevin, um livro fascinante sobre amizade, amor e videogame. Terminei com vontade de comprar um Playstation.
6 - "As pequenas chances", de Natalia Timerman, memórias sobre o luto em que a autora discorre sobre a morte de seu pai e uma viagem fictícia tão convincente à Ucrânia em busca de suas raízes, que só soube ser ficção ao ler suas entrevistas. Já "Aos prantos no mercado", da Michelle Zauner aka Japanese Breakfast, também é um livro sobre luto muito honesto e envolvente. Terminei o livro querendo aprender a fazer kimchi, que eu nem gosto muito, e a visitar a Coréia do Sul.
7 - "Sem tempo a perder", de Úrsula K. Le Guin, é uma coleção de textos autobiográficos de uma das maiores autoras de ficção científica. Escrito de maneira bem-humorada, Le Guin fala sobre as dores de envelhecer de uma maneira bem franca.
8 - "Marcas de nascença", de Nancy Hudson, foi uma leitura espetacular sobre como os traumas de nossos antepassados podem marcar a vida das gerações que ainda estão por vir. Rendeu assunto na terapia.
9 - "Escute as feras", de Natassja Martin, é a história da antropóloga que sobreviveu a um ataque de um urso em uma montanha na Rússia. Foi uma leitura catártica e tão dilacerante quanto foi o encontro entre esses dois seres, Martin e o urso.
10 - "A Cidade Solitária", escrito por Olivia Laing, fala sobre solidão tendo Nova York e a arte contemporânea como pano de fundo para discutir sobre a relação entre a arte, dor e solidão. Eu amei um tanto esse livro que tem muitas referências artísticas que eu desconhecia.
11 - Assistir a Patti Smith numa performance intimista (e gratuita) num museu em Berlim foi também uma das experiências mais bonitas que tive no ano. Ela leu poesia, contou história sobre seus heróis, fez declarações de amor, tocou violão e pediu para alguém da plateia afinar seu violão. Foi durante o show que eu tive o clique de escrever sobre ela e a questão de gênero, uma das edições que eu mais gostei de escrever.
12 - Eu gosto muito desse momento da música, onde surgem novos gêneros inclassificáveis filhos da internet, das redes sociais, dos games. São experiências sonoras que vão além da música, muitas vezes barulhentas, performances para serem assistidas ao vivo, pois é a combinação da música com os elementos visuais que dá sentido a tudo. Fiquei totalmente fascinada com os shows do Team Rolfes e do Amnesia Scanner, no encerramento do CTM Festival, que me arrastaram para dentro de um vórtex. Me senti num metaverso.
13 - Ter retornado ao festival SXSW depois de alguns anos foi um dos meus ápices do ano. O que me marcou por lá foram os vários reencontros, o fato de me sentir tão em casa nesse festival tão concorrido, de ter dançado "Super Nature" com Cerrone pessoalmente e assistido um show vibrante do Vök no lobby de um hotel. Nada como voltar ao nosso habitat quando nos perdemos de nós mesmos.
14 - Adorei estudar a felicidade e escrever sobre ela. Mergulhar no tema revelou que algo estava errado comigo, me lançou em alto mar e me trouxe de volta para terra firme em segurança.
15 - Assisti a muitos shows excelentes em 2023, o que torna difícil escolher os melhores, mas alguns que marcaram foram: O carioca Jonathan Ferr, no Psicotrópicos; o duo Noporn, no Whole; Christine and the Queens, Tove Lo e Blur, no Way Out West; e os shows avulsos da banda Altin Gün, Yeah Yeah Yeahs!, Ólafur Arnalds, Depeche Mode e Jeff Mills apresentando "Tomorrow Comes The Harvest", todos eles em Berlim. Menção honrosa ao Acid Arab, que abriu a pista no quintal do Gretchen proporcionando uma das noite mais mágicas do último verão.
16 - O show que mais me surpreendeu foi do Johnny Jewel, o responsável por duas bandas que ouvi exaustivamente: Chromatics e Glass Candy. Dá play aqui e ouça como foi esse show lindo de morrer.
17 - Dançar por 4 horas seguidas com o Four Tet numa tarde deliciosa e cremosa no Berghain porque os amigos foram barrados na porta. Às vezes, é bom lembrar que é possível se divertir sozinha.
18 - Dancei muitas vezes com ‘Hit Parade’, da Róisín Murphy & DJ Koze, ‘That! Feels Good!’, da Jessie Ware e ‘Fuse’, do Everything But The Girl. Já da série discos lindos para momentos introspectivos, as trilhas sonoras foram ‘12’, de Ryuchi Sakamoto, ‘Javelin’, do Sufjan Stevens, ‘I Inside the Old Year’, da PJ Harvey e ‘Lord of Lords’, da Alice Coltrane, lançado um ano antes de eu nascer. A menção honrosa fica para ‘Radical Romantics’, do Fever Ray.
19 - A sessão de audição do álbum ‘Within the Realm of a Dying Sun’;, do Dead Can Dance me deixou aos prantos de tão linda que foi. Ouvir esse álbum me conectou com uma vida que não existe mais. Embora não tenha escrito a respeito, compartilhei sobre outra audição que participei do ‘Hidari Ude No Yume’, de Ryuichi Sakamoto. Ter experiências de audição sonora de álbuns em público tem me ensinado a escutar melhor.
20 - Criar a newsletter de guia de fim de semana
foi uma das coisas mais legais que fiz no ano. Ela me proporcionou novas conexões e uma nova relação com a cidade. Além disso, ajudou-me a recuperar a autoestima e será um dos meus principais focos profissionais em 2024.21 - Apesar das diversas ressalvas em relação ao Substack, a plataforma foi a minha rede social de 2023. Ela me conectou com muita gente bacana e me levou para leituras que reviraram um mundo inteiro aqui dentro: Os textos dançantes do
temperaram meus dias; os da me trouxeram um olhar mais crítico para a escrita; as reflexões do e da causaram vários curtos circuitos cerebrais; e os da , e da acalmaram a minha alma.22 - Dois pequenos livros me ajudaram a lembrar que sempre é tempo de se reinventar: ‘Telepatia são os outros’, da
, e ‘O mundo sem anéis’, da .23 - Assisti a 4 espetáculos diferentes da performer e bailarina Florentina Holzinger, e em todos eles fui impactada de maneiras distintas, mas sempre com um soco no estômago. Cada apresentação gerou horas de conversas, pesquisas e o desejo de ver mais. Caso esteja ou venha para a Europa este ano, confira as próximas apresentações dela aqui.
24 - A minha história favorita do ano foi a prensagem errada do álbum da Taylor Swift, que ao invés de levar o ‘Speak Now’ para as Swifties, mandou a compilação ‘Happy Land: A Compendium Of Electronic Music From The British Isles 1992-1996 Vol. 1’. Considero isso um golpe de sorte para os ouvidos.
25 - Fiquei fascinada por Elisabetta Sirani ao conhecer a história da pintora barroca que quebrou barreiras e driblou as expectativas sociais em pleno século 17.
26 - Entre todas as exposições que vi em 2023, as três favoritas foram: a Bienal de Arte de São Paulo, que apresentou um novo olhar para a arte ao ultrapassar sua visão decolonizadora, abraçando um ponto de vista mais amplo da arte; o trabalho midiático de Ana Mendieta em 'Silhueta em Fogo | terra abrecaminhos', no Sesc Pompeia (até 24.01); e a exposição 'Magic of the North', que revelou como Berlim impactou na vida e obra de Edvard Munch (até 22.01).
27 - Acompanhar as novas empreitadas artísticas com o uso de inteligêcia artificial da Cindy Sherman e da Giselle Beiguelman trouxe não apenas uma maior compreensão sobre a tecnologia, mas também destacou como ela pode ser uma ótima aliada na criatividade.
28 - Ouvi 4 episódios de podcasts que deram o que pensar: as conversas de Julia Louis-Dreyfus com Jane Fonda e Isabel Allende; o 'Manual Impossível da Rejeição', do vibes em análise; e 'Alopra', do Elefantes na Neblina. Já as minhas conversas favoritas do ano foram: a entrevista de 1976 com Clarice Lispector, restaurada pelo 451MHz e publicada em duas partes - Parte 1 e Parte 2; e o bate-papo de Mano Brow com a Conceição Evaristo.
29 - Voltei a frequentar o cinema, mas ainda menos do que gostaria. Berlim é o paraíso para quem ama uma sala de cinema. Os meus longas favoritos foram ‘Close’ (2022), ‘Beau is Afraid’ (2023), ‘Leave the World Behind’ (2023), ‘Sharper’ (2023), ‘Passagens’ (2023), ‘May December’ (2023) e ‘Saltburn’ (2023). Sei que muitos detestaram o último, mas eu amei. Também ri muito com ‘Rotting in the Sun’ (2023).
30 - Vi menos séries do que costumava assistir. Gostei muito de Jury Duty, que me trouxe um pouco de fé na humanidade, The Crowded Room, Treta, As Flores Perdidas de Alice Hart e Uma Questão de Química. Todas ótimas para desopilar no fim do dia.
O ano foi ainda mais especial porque recebi a visita de alguns dos meus melhores amigos ao longo do ano, consegui manter as aulas de yoga quase em dia, celebrei meus dez anos de casada na Suécia, vi o pôr do sol e a lua cheia nascendo ao mesmo tempo no Tempelhof - o parque-aeroporto - num dos espetáculos mais bonitos do ano, celebrei meus 50 anos com uma pequena multidão no meio de um parque, dancei por nove horas num barco em Berlim, conheci Chamonix, melhorei no esqui, me conectei com uma rede de mulheres escritoras que eu admiro muito, tive bons momentos no Brasil, enfim, 2023 foi um ótimo ano. Olhando para trás o riso sai fácil de mim.
E, por aí, o que balançou o seu último ano? Me conta nos comentários porque recebê-lso sempre faz o meu dia melhor.
Tchau e nos nos vemos já já! Caso goste da Espiral, passe-a para frente. •ᴗ•
que 2024 seja cheio de bons filmes, músicas, momentos, shows e viagens! <3
Lalai, a Espiral esteve super presente no meu ano! bom ver essa troca acontecendo. que 2024 seja um ano gostoso de se viver 🩷